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domingo, 17 de fevereiro de 2013

No (2012)


NO, 2012. Dirigido por Pablo Larraín. Com Gabriel García Bernal, Alfredo Castro, Luis Gnecco, Antonia Zegers e Jaime Vadell.

Nota: 9.1

Filmes políticos não são uma realidade em países do considerado Terceiro Mundo, ou por ainda receberem forte pressão de governos ligados aos episódios que se pretende mostrar, ou por acharem que não será interessante para o público. Um exemplo claro é o Brasil. Apesar de os chamados Favela-Movies terem ganhado destaque na última década no país, seja com críticas ao sistema governamental que faz má distribuição da riqueza, ou ataques diretos à corrupção que vem de Brasília, ainda não fomos premiados com fatos importantes de nossa história, que o povo merecia saber, como o impeachment de Collor, as Diretas Já, o nosso período imperial, e por aí vai. Em contrapartida, o emergente cinema chileno traz uma obra de um dos episódios mais importantes de sua nação, mostrando os bastidores das campanhas para o plebiscito que encerraria a ditadura de Augusto Pinochet, sem inclinações, apenas fatos.

Em 1988, o publicitário René Saavedra (O sempre ótimo Gael García Bernal) é procurado por José Tomas (Luis Gnecco) para que encabeçasse a campanha televisiva pelo “Não”, no plebiscito que o então ditador Augusto Pinochet foi obrigado a organizar, já estava sendo pressionado pela comunidade internacional. A negativa do povo chileno encerraria a dinastia que já durava 15 anos e traria a democracia. O “Sim” manteria o general sabe-se lá por quanto tempo no poder. Quanto mais vai se envolvendo nas questões que conduzem a importância da eleição, Saavedra percebe também que o triunfo de seu trabalho pode mudar de fato a forma de pensar das pessoas. Contudo, seu envolimento também passa a trazer riscos a ele e sua família.

Pablo Larraín não é condescendente com nenhuma das ideias, é neutro, e isso percebe-se na forma distante com que conduziu os diálogos, as cenas de revoltas e poupou da violência e brutalidade do governo Pinochet. O roteiro de Pedro Peirano prima pela discussão do maniqueísmo que as frentes deveríam ter de contornar, já que ambos não eram 100% vilões ou mocinhos. Os dois lados da moeda de cada um deles é destacado, apesar do foco estar na campanha do “No”, e o diretor sabia que o público iria tirar suas conclusões, principalmente com a inserção de imagens televisivas reais. O foco está em como cada um trabalhou com o material que tinha disponível. Saavedra era brilhante, e sua experiência em vender ideias em comerciais o levou a seguir o caminho mais “fácil”, buscando levar a população ao prazer. Apesar de ser patrão do rapaz, Lucho Guzmán (Alfredo Castro, competente) era de um tempo retrógrado, e não conseguia direcionar a campanha oposta ao êxito.

O tom envelhecido, amarelado da fotografia traz uma fidelidade invejável, que combinado à câmera irriquieta de Larraín, deixa o filme com características documentais, que provavelmente causou comoção em quem presenciou tais fatos. O que faz de No ainda mais cativantes é a forma como seu diretor não abandona o lado humano de suas produções. Em Tony Manero (08), mostrou a obsessão de um homem (Também com Alfredo Castro) por um personagem, emiuçando seu comportamento. Aqui, é mais sutil, entretanto, coloca os personagens em encruzilhadas morais, amores, temores e convicções dentro do turbilhão, mas sem o melodrama que minou a excelência pela busca do “sim” do Lincoln de Spielberg. Assim não nos perdemos em meio a questões políticas e a horários eleitorais, que por aqui, odiamos. Seu acerto mais notável.

Com atuação firme de seu elenco, Pablo Larraín não teve medo de contar uma história importante e rica, política e humana. Mostrou o poder de uma verdadeira democracia e de como que em uma campanha eleitoral, só ideias não bastam para obter o triunfo. Se alguns ainda questionam se o “No” foi a melhor escolha do povo naquele momento, é só olhar para seu cinema, que pela excelência que vem ganhando, merece a alternativa “sim”.

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