NO,
2012. Dirigido por Pablo Larraín. Com Gabriel García Bernal,
Alfredo Castro, Luis Gnecco, Antonia Zegers e Jaime Vadell.
Nota:
9.1
Filmes políticos não
são uma realidade em países do considerado Terceiro Mundo, ou por
ainda receberem forte pressão de governos ligados aos episódios que
se pretende mostrar, ou por acharem que não será interessante para
o público. Um exemplo claro é o Brasil. Apesar de os chamados
Favela-Movies terem ganhado
destaque na última década no país, seja com críticas ao sistema
governamental que faz má distribuição da riqueza, ou ataques
diretos à corrupção que vem de Brasília, ainda não fomos
premiados com fatos importantes de nossa história, que o povo
merecia saber, como o impeachment de
Collor, as Diretas Já, o nosso período imperial, e por aí vai. Em
contrapartida, o emergente cinema chileno traz uma obra de um dos
episódios mais importantes de sua nação, mostrando os bastidores
das campanhas para o plebiscito que encerraria a ditadura de Augusto
Pinochet, sem inclinações, apenas fatos.
Em
1988, o publicitário René Saavedra (O sempre ótimo Gael García
Bernal) é procurado por José Tomas (Luis Gnecco) para que
encabeçasse a campanha televisiva pelo “Não”, no plebiscito que
o então ditador Augusto Pinochet foi obrigado a organizar, já
estava sendo pressionado pela comunidade internacional. A negativa do
povo chileno encerraria a dinastia que já durava 15 anos e traria a
democracia. O “Sim” manteria o general sabe-se lá por quanto
tempo no poder. Quanto mais vai se envolvendo nas questões que
conduzem a importância da eleição, Saavedra percebe também que o
triunfo de seu trabalho pode mudar de fato a forma de pensar das
pessoas. Contudo, seu envolimento também passa a trazer riscos a ele
e sua família.
Pablo
Larraín não é condescendente com nenhuma das ideias, é neutro, e
isso percebe-se na forma distante com que conduziu os diálogos, as
cenas de revoltas e poupou da violência e brutalidade do governo
Pinochet. O roteiro de Pedro Peirano prima pela discussão do
maniqueísmo que as frentes deveríam ter de contornar, já que ambos
não eram 100% vilões ou mocinhos. Os dois lados da moeda de cada um
deles é destacado, apesar do foco estar na campanha do “No”, e o
diretor sabia que o público iria tirar suas conclusões,
principalmente com a inserção de imagens televisivas reais. O foco
está em como cada um trabalhou com o material que tinha disponível.
Saavedra era brilhante, e sua experiência em vender ideias em
comerciais o levou a seguir o caminho mais “fácil”, buscando
levar a população ao prazer. Apesar de ser patrão do rapaz, Lucho
Guzmán (Alfredo Castro, competente) era de um tempo retrógrado, e
não conseguia direcionar a campanha oposta ao êxito.
O
tom envelhecido, amarelado da fotografia traz uma fidelidade
invejável, que combinado à câmera irriquieta de Larraín, deixa o
filme com características documentais, que provavelmente causou
comoção em quem presenciou tais fatos. O que faz de No
ainda mais cativantes é a forma como seu diretor não abandona o
lado humano de suas produções. Em Tony Manero
(08),
mostrou a obsessão de um homem (Também com Alfredo Castro) por um
personagem, emiuçando seu comportamento. Aqui, é mais sutil,
entretanto, coloca os personagens em encruzilhadas morais, amores,
temores e convicções dentro do turbilhão, mas sem o melodrama que
minou a excelência pela busca do “sim” do Lincoln de Spielberg.
Assim não nos perdemos em meio a questões políticas e a horários
eleitorais, que por aqui, odiamos. Seu acerto mais notável.
Com
atuação firme de seu elenco, Pablo Larraín não teve medo de
contar uma história importante e rica, política e humana. Mostrou o
poder de uma verdadeira democracia e de como que em uma campanha
eleitoral, só ideias não bastam para obter o triunfo. Se alguns
ainda questionam se o “No” foi a melhor escolha do povo naquele
momento, é só olhar para seu cinema, que pela excelência que vem
ganhando, merece a alternativa “sim”.
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