Kon-Tiki, 2012. Dirigido por Joachin Ronning e Esper Sandberg. Com Pål
Sverre Valheim Hagen, Gustaf Skarsgard, Baasmo Christiansen e Old
Magnun Willianson.
Nota: 8.6
O cinema americano é, sem
dúvidas, o detentor da maior fábrica de fazer obras cinematográficas
gigantescas, daquelas de tirar o fôlego, e mesmo sem contar com um bom roteiro,
acaba convencendo o espectador pelo espetáculo em cena. Mas coube aos cineastas
noruegueses Joachin Ronning e Esper Sandberg levar uma das mais fabulosas histórias
reais de aventura que se tem notícia às telonas. A viagem do explorador Thor
Heyerdahl da América do Sul à Polinésia em 1947, usando o mesmo tipo de embarcação
que os nativos teriam usado na época.
Quando estava
com a esposa em uma viagem pela Indonésia, Thor (Pål
Sverre Valheim Hagen) ouve de um local que a origem de sua espécie
era “o por-do-sol”, ou seja, a América do Sul. Com sua tese em mãos parte para
a América na tentativa de publicá-la, entretanto esbarrou na falta de provas
sólidas de seu estudo. Com uma idéia maluca na cabeça, e doações do exército
norte-americano, reúne cinco homens e parte para a expedição. Aos poucos vai
percebendo que tudo seria bem mais difícil do que imaginava, e em alto-mar, a
única ajuda que teriam seria a da fé em seus companheiros.
A história
original da expedição Kon-Tiki é mostrada de forma absolutamente real, o que
foi facilitado pelo documentário feito a bordo por um Thor, com a ajuda de
Bengt Danielsson (Gustaf Skarsgard), e o livro publicado também por ele. O
roteiro de Petter Skavlan tem o grande triunfo de manter toda a mística da viagem,
mas seu maior acerto foi incluir tudo o que aparece quando pessoas diferentes
ocupam um pequeno espaço: conflitos diversos. A desconfiança gerada pela falta
de comunicação, a rota que estava fora do esperado, tudo contribuindo para um
péssimo andamento da viagem.
Além disso, a
questão da vida pessoal de Thor, as dificuldades de se entender com a esposa,
que não aprovou a incursão, dão uma quebra no excesso de tensão que obviamente
se cria em uma situação destas. Os motivos são expostos através de flashbacks,
e no fim, o público não toma partido, apenas observa sem ser o inquisidor, fato
que geralmente o cinema americano faz questão de impor. Apesar disso, quando
entra na reta final, o sentimentalismo entre os tripulantes extrapola, e quase
coloca tudo a perder.
A produção do
filme é sensacional, ainda mais se pensarmos que não é um produto
hollywoodiano. As cenas exuberantes, com uma fotografia que consegue acompanhar
a as mudanças climáticas e do comportamento dos personagens. Os efeitos de
câmera tornam a concepção do filme inacreditável, pois a sensação de isolamento
proporcionada pelos travellings, com a imensidão azul por todos os lados, é de
uma qualidade invejável. Ainda tem a sequência da captura de um tubarão, com
tensão e muito sangue, de uma veracidade que chega a dar náuseas.
Um longa que
merece ser visto, tanto pela história inacreditável, quanto pela produção
requintada e cuidadosa, que não se deixa levar pelos exageros. Se fosse um
filme americano teria uma enxurrada de premiações e outras tantas indicações ao
Oscar, entretanto ficou apenas entre os finalistas de filme estrangeiro. Mais
um bom trabalho do cinema norueguês, que também lançou recentemente premiado Oslo, 31 de agosto, uma lição para os
países emergentes do meio cinematográfico para mostrá-los que há boas histórias
dentro de seus domínios, e que o mundo precisa conhecer.
* Só por
curiosidade, o documentário que foi gravado durante a expedição ganhou um
Oscar, agora o filme também terá a chance.
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