Django Unchained, 2012. Dirigido por Quentin Tarantino. Com Jamie Foxx, Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio, Kerry Washington, James Remar e Samuel L. Jackson.
Nota: 9.0
Se existe um diretor que consegue
chegar próximo da mistura que seria a perfeição de uma obra cinematográfica,
pois apresenta a qualidade da sétima arte em conjunto a um caldeirão pop e leva
milhões aos cinemas, este é Quentin Tarantino. Com filmes carregados de
violência, humor negro e trilha sonora agradável, se tornou um adjetivo, um
representante singular do cinema atual, que não abandona os gêneros que o
inspira. O seu preferido, o western, ganha uma repaginada contemporânea, com um
caubói negro lutando para recuperar sua amada, parece simples, mas Django Livre
nos mostra muito mais do que uma simples sinopse pode contar.
O ex-dentista e caçador de
recompensas Dr. Schultz (Christoph Waltz, ótimo) intercepta uma caravana de
mercadores de escravos para libertar um deles, Django (Jamie Foxx), pois seria
o único a reconhecer suas próximas vítimas. Depois de muito sangue, ele o
liberta e juntos partem para cumprir o serviço, mas com uma condição: que o
alemão ajude Django a encontrar sua esposa, Broomhilda (Kerry Washington).
Porém esta missão não será nada fácil, já que ela se encontra sob os domínios
do excêntrico Calvin Candie (Leonardo DiCaprio, perfeito), que não gosta de
perder seus pertences facilmente.
Como foi dito, os roteiros
“tarantinescos” soam simplistas e modestos em uma primeira vista, mas passam
longe disso. Usando todo seu conhecimento sobre os faroestes, neste em especial
os “spaghetti” de Sergio Leoni, Sergio Corbocci e Alberto Cardone, cria um
advento único, que traça a epopéia de um negro às vésperas da Guerra Civil que
viria abolir a escravatura. Assim como recontou a Segunda Guerra Mundial em
Bastardos Inglórios (09), quando fez sua própria versão do fim do conflito, o
diretor define como seria a luta ideal pelo fim da escravidão. Tira Django da
condição de submissão e o eleva a justiceiro sanguinário que sai em busca de
vingança.
A forma como explora a grandeza
dos cenários, ora no amarelo do árido, ora no branco excessivo da neve, sempre
manchado de sangue, em um trabalho potente de Robert Richardson, cria um
ambiente ameno e faz a violência, mesmo voraz, parecer complacente e cômica. De
praxe, cria sua polêmica quando submete seu protagonista a ser racista, e ainda
lhe sobra tempo para estarrecer com sequências de puro horror. A exemplo também
de seu Bastardos, busca sempre fazer links históricos com ar de zombaria, neste
caso, um grupo do Ku Klux Klan prestes a fazer um ataque desastroso. Tarantino
ainda abusa de seus conhecidos closes, mudanças rítmicas e trilha sonora que
remonta aos clássicos aos quais se inspira, e ainda encontra tempo para mostrar
que sabe o que está fazendo, quando expressa referências a outras culturas,
como a alemã, pois além do idioma, inclui um pouco de sua mitologia. Aula de
texto cinematográfico.
O ponto alto do longa, no
entanto, é seu brilhante elenco. Novamente contando com a mão do diretor, os
personagens peculiares carregam a trama que, em seu único aspecto negativo, se
estende por demais. Christoph Waltz já levou para casa o Globo de Ouro pelo
papel feito especialmente para ele, e pudera, a dualidade de Schultz é
esculpida com habilidade e carisma. Jamie Foxx correu atrás de Tarantino para
ser seu Django, não tem uma atuação para os anais, mas cumpre seu papel. Samuel
L. Jackson faz um negro preconceituoso, polêmica na medida certa, seu melhor
trabalho desde Pulp Fiction, curiosamente também ao lado do diretor. Mas a
excelência fica por conta de Leo DiCaprio. Mas uma vez prova que não existe
esta bobagem de galã e cria um Calvin Candie afetado, egocêntrico e frio. É o
ator mais versátil e regular do cinema atual. Há ainda ponta preciosa do Django
místico Franco Nero em uma sequência inesquecível.
Django Livre não é o segundo
(Pulp Fiction é insuperável) melhor filme de Tarantino por pouquíssimos
deslizes. Se alonga demais nas entrelinhas e acrescenta um teor dramático desnecessário quando a receita
estava finalizada. Entretanto, não deixa de ser uma obra peculiar, brilhante.
Tanto que os pontos negativos são por excesso e não por falta de cinema. É um
longa pop que tem tudo para emplacar entre os cinéfilos já em fervor. E como se
trata do mais cultuado diretor do meio cinematográfico da atualidade, um filme
seu que não é seu ponto mais alto, é, ainda assim, um dos melhores do ano.
Parece que Leonardo Di Caprio só vai ter o reconhecimento da Academia quando ficar velho e enrugado para o tal Oscar Honorário. Ele é 1000 vezes mais talentoso que Brad Pitt, mas mesmo assim o loirão tem mais reconhecimento que ele, acumulando indicações na carreira. Chega a ser revoltante esse descaso com Leo.
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