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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

As sessões (2012)

The Sessions, 2012. Dirigido por Ben Lewin. Com: John Hawkes, Helen Hunt e Wilham H. Macy

Nota: 8

O que acontece quando as pessoas se apegam emocionalmente? Uma das respostas pra esta pertinente questão é proferida numa versão impactante: "se torna tudo mais complicado como faz a maioria." Ainda bem que esta resposta de uma das personagens de As sessões foi na contra-mão do roteiro apresentado pelo diretor Ben Lewin. O filme premiado em muitos festivais, foi baseado no artigo do escritor e poeta Mark O'Brien, que perdeu todos os movimentos do corpo depois que contraiu poliomielite quando criança. Nestas condições ele só precisou de sua cabeça de onde saiu o interessante "Se consultando com uma substituta".

Este trabalho fez o autor consultar, interagir verbalmente com outras pessoas com as mesmas limitações. As indagações  pessoais de Mark acerca do tema foi o pontapé inicial de sua iniciação sexual pelas mãos de uma profissional da área. Decisão que poderia criar uma complicação neste sentido, mas passou longe diante de toda naturalidade exposta pela trama pautada neste assunto tabu. A profissional em questão não se tratava de uma prostituta como deixa claro logo de cara em sua primeira entrevista Cheryl (Helen Hunt). Uma terapeuta sexual. Assim ela se auto intitulava depois de ser contratada pelo escritor Mark O'Brien (John Hawkes, excelente). Um escritor que depois de doente, passa a viver as custas de um respirador chamado "pulmão de aço". Esta condição extremamente limitada, como não poderia deixar de ser, o impede de ter uma vida social normal, mas não de frequentar a Igreja católica a cada celebração religiosa. Assim, fica fácil fazer do paciente Padre Brendan (Wilham H. Macy) o único a quem pode confiar suas crises existenciais juntamente com suas inquietações comuns. Quando estas inquietações passam a não ser mais tão comuns ganhando um caráter sexual, o pároco se assusta com as confidências ousadas de Mark, que acima de tudo deseja não morrer sem sequer ter encostado em uma mulher sem roupa. O Padre numa decisão inesperada para sua posição, aconselha-o sabiamente a procurar uma especialista para resolver seu "probleminha". 

Então entra em cena Cheryl, uma dona-de-casa que mantém uma vida doméstica comum em meio a profissão que dificilmente seria entendida pelos outros. Cheryl e Mark apresentam uma cômoda interatividade permeada pela sensibilidade da moça como exige sua profissão. A cada sessão, ela tenta introduzi-lo da forma mais agradável possível a complexa jornada do amor carnal. Um constrangimento inicial expulsa sua normalidade depois da confiança adquirida pelo paciente ao trabalho de sua terapeuta. Nota-se nesta troca de experiências que Mark tem os todos os equipamentos corretos para jogar, mas lhe falta compreensão dentro deste campo. A troca de fluidos físicos evolui intensamente com a emocional. A personalidade positiva e até irônica de Mark perante toda a situação, cativa Cheryl ao ponto de se deixar envolver pelo homem apaixonante que se revela a ela. O sentimento parece recíproco. É hora de cessar, antes que tudo fique complicado demais para administrar impulsos sexuais e sentimentais. Mark está pronto para se envolver física e o mais importante, emocionalmente com as mulheres. 

A importância do sexo na vida de todas as pessoas é o estopim do filme que promove a delicadeza e resgata a humanidade perante um assunto tão complexo da miríade de anseios humanos. Se tivesse optado pelo caminho mais melodramático em expor a questão, talvez não tivesse surtido o efeito esperado. Ao deixar fluir com naturalidade o tema dentro da tela cujo o ápice está na exposição física de Hunt, Ben descreveu com mais segurança as dificuldades que passam as pessoas que para a sociedade, e os próprios, se sentem mortas para o prazer sexual. Algo raro de se ver no cinema. Um chamariz para o espectador mais sensível e sem preconceitos. A relação sexual aqui se desnuda totalmente em diálogos reais compatíveis com as atuações do elenco. 

Não há um grande estrondo, uma cena arrebatadora, mas não se pode deixar de fazer uma menção eloquente em torno das atuações, especialmente de Hunt. Ela nunca foi uma atriz de grandes arrombos. Assim tirou o Oscar da inconformada Kate Winslet em 1998, mas deve-se aplaudir no mínimo, sua coragem efetiva neste trabalho. Sua indicação ao Oscar pode até ser contestada, no entanto seu trabalho merece ser visto com uma atenção particular. Hawkes atua de forma excelente, minimizando um possível sentimento de piedade em torno do personagem com tamanha empatia que traduz através dos textos e expressões. A atuação que poderia ser descrita apenas fisicamente, contudo ganha mais força de com um simples olhar e um sorriso irônico. 

Interessante é o paradoxo traçado na figura do Padre de H.Macy. Um guia espiritual que se coloca como uma ponte a conduzir Mark da melhor maneira possível às respostas em suas dúvidas carnais. As regras milenares da religião são discriminadas nesta passagem pelo forte sentimento de amizade, e compaixão, para com sua "ovelha". O paradoxo também dita a tônica do elemento que alavanca e decai a obra intimista. A simplicidade. Se por um lado remeter o roteiro sob este esteio é um ponto positivo, por outro condensa uma parte considerável do desenvolvimento da trama tão prazerosa. Entretanto, a resposta para a questão deixada no filme tem muitas versões e uma delas diz respeito ao sucesso de seu desenvolvimento. 

O que acontece quando as pessoas se apegam emocionalmente? Cenas de narrações críveis, atuações convincentes, diálogos precisos, sem rodeios ou as metáforas convenientes para as descobertas ascendentes no campo sexual. Emoções que tocam apenas com palavras tudo que temos por dentro. 

Um comentário:

  1. Texto belíssimo para um filme interessante que merece ser visto. Hawkes fora da premiação é um grande equívoco, e Hunt está no limite de seu irresistível carisma. Há de se tirar o chapéu para Macy e seu padre moderninho.

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