Zero Dark Thirty, 2013. Dirigido por Kathryn Bigelow. Com Jessica
Chastain, Jason Clarke, Mark Strong e Joe Edgerton.
Nota: 9.2
Quando Kathryn Bigelow resolveu
revelar através de seu ótimo Guerra ao
Terror (09) os efeitos que os conflitos no Oriente Médio, que se iniciaram
após o 11/9, causavam nos jovens soldados que passavam por lá, a inquietude e o
horror que vinha de todos os lados, a diretora foi muito elogiada pelo público
e pela crítica. Três anos depois e com a estatueta dourada na prateleira, volta
ao tema, agora para contar todo planejamento feito pelo serviço secreto
americano que tem seu auge na morte do maior inimigo do país dos últimos
tempos: Osama Bin Laden, em meio muita polêmica.
O filme se inicia com uma agoniante
cena de tortura feita pelo agente Dan (Jason Clarke) a um prisioneiro para que
este informasse algo que os levassem ao paradeiro dos “cabeças” da organização
terrorista Al-Qaeda. Quando a agente Maya (Jessica Chastain, ótima) chega para
trabalhar na campanha, as buscas ficam cada ano mais intensas. Cada investida
do inimigo vai modificando o modo de pensar de Maya e sua missão acaba se
tornando uma obsessão, fazendo com que qualquer informação se transforme em uma
peça do enorme quebra-cabeça que a levará a Bin Laden.
Primeiramente, o roteiro novamente
escrito por Mark Boal, se limitava apenas a mostrar os trabalhos árduos e
inconclusos da CIA para achar o mandante dos atentados às Torres Gêmeas de
2001. Com a notícia da morte de Bin Laden em 2 de maio de 2011, incluiu uma
sufocante sequência final ao longa. Mas, o grande triunfo de Boal foi seguir o
arcabouço que lhe rendeu o Oscar por Guerra
ao Terror, manter o foco nos personagens, porém, agora com as atenções
voltadas quase que exclusivamente para a personagem de Chastain. A fidelidade das
comentadas cenas de tortura são de tirar o fôlego, e talvez por isso tenham
causado tanto reboliço.
Por meio de gravações de áudio e
fotos e vídeos que vazaram na internet, as cenas são duras e representam
atitudes que o governo americano no governo Obama fizeram questão de coibir.
Mas por que tanto reboliço, que visivelmente prejudicou o filme na corrida do
Oscar, se não se trata de mentira? A reposta está em questões éticas, de como
foram obtidas informações, que para o andamento do longa, não interfere na
qualidade. A humilhante cena de um dos agentes puxando o prisioneiro como um
cachorro é representada, o que aumenta a insatisfação.
Intrigas à parte, Bigelow afunda
a mão e com sua câmera frenética produz altas doses de tensão,
preferencialmente com closes incessantes na figura de Maya. Busca aterrorizar o
público, mas deixar bem claro que não imprime qualquer opinião sobre as
atitudes de todos que compõe a história. A fotografia de Graig Fraser é
excelente, e mantém a protagonista entre a escuridão que aumenta gradativamente
me sua alma, e contrapontos de luz, na maioria deles dividindo o espaço com a bandeira
americana. Os pontos altos da produção são, quando finalmente localizam o
paradeiro de Bin Laden, com uma sequência de quase quarenta minutos, bem
fotografada e tecnicamente perfeita; e a atuação ambígua de Jessica Chastain,
perfeita na mudança de pensamento e obsessão de sua Maya.
Talvez A Hora Mais Escura não consiga atrair as atenções devido à sua
longa duração e excesso de silêncio, porém não pode ser deixado de lado por
questões de ética que nada tem a ver com sua qualidade. Bigelow mostra que sabe
constituir um clima de guerra, sem esquecer de traçar os questionamentos
ideológicos de quem coordena os movimentos externos. Um filme polêmico,
político, bem dirigido e escrito, alguns dos ingredientes que fazem de um filme
um verdadeiro exemplar do cinema atual.
O filme tem que mostrar a realidade doa a quem doer. Neste quesito A hora mais escura ganha muitos pontos, mesmo indo de contra-mão a hipocrisia da sociedade ocidental, que insiste em julgar os EUA como os vilões desta triste história. Um filme brilhante acima de tudo e Jessica é incrivelmente fabulosa!
ResponderExcluir