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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

A feiticeira da Guerra (2012)

A Feiticeira da Guerra (Rebelle, Canadá, 2012)
Direção: Kim Nguyen
Com Rachel Mwanza, Alain Bastien, Serge Kanyinda
Nota: 8

A brutalização da infância das crianças africanas refém das estúpidas guerras do continente acompanha o roteiro e a câmera de Kim Nguyen na trajetória narrativa da menina Komona (Rachel Mwanza), que aos 13 anos foi obrigada a fazer parte involuntariamente de uma sucessão de fatos desumanos. 

Aos 12 anos, Komona, uma menina alegre e dedicada à família, viu sua aldeia ser invadida por rebeldes guerrilheiros, que dentre tantas atrocidades a obrigou matar seus próprios pais. Levada à força contra um destino insólito, a menina é recrutada junto a outras crianças para aprender a sobreviver na bala. A família logo é substituída pelas armas de fogo depois de um ritual, uma espécie de batismo pelo feiticeiro do bando. De armas em punho, as crianças partem para o campo de batalha, e como era de se esperar, a maioria sucumbe fatalmente, exceto Komona, que consegue se esquivar deste triste final. As responsáveis pela "sorte"da garota é uma "seiva da mata", usada para descarregar os maus espíritos e fechar o corpo dos membros do exército rebelde. Komona passa a ter alucinações de fantasmas de negros pintados de branco com olhos mortos e, segundo a lenda, a ajudam escapar ilesa do Frontes improvisados de batalhas. 

Assim nasce a história de A feiticeira da guerra, uma menina que segundo seu exército, é a responsável direta pelas conquistas do grupo liderado pelo Grand Tigre Royal. Komona vira a guru do líder, conseguindo um status importante dentro de todo aquele horror. Sua vida só dá uma guinada um pouco significativa quando se envolve romanticamente com outro colega, o valente "Mágico" (Serge Kanyinda). Contudo, a alegria dos pombinhos é interrompida com mais violência. Komona perde seu amor, retorna às mãos dos rebeldes e acaba engravidando do General. É a este pequeno rebento que narra melancolicamente sua vida depois que o Mal entrou e se apossou dela. 

Embora seja uma ficção, o filme de Nguyen age de acordo com a realidade pescando quase toda sua essência contextual a tom documental. Este é o ponto que pode sensivelmente alterar seu valor cinematográfico. Isto o aproxima demais da realidade quando mais uma vez nos tornamos testemunhas oculares por meio das telas da violência sanguinária de países que nasceram para ser coirmãos. As razões do conflito específico da história em si mal são mencionadas, mas podemos ter uma noção simplificada do quanto isso pode nos comover, como em Hotel Ruanda (2004). Ver crianças entregues a um destino curto e brutal sem razão suficientemente aceitável para tal, desperta uma certa perplexidez em aceitar os caminhos que insistem em atravessar as ruas tortuosas da humanidade. 

O tema é forte, realista demais e como tal, foram escalados atores "não atores" para dar mais veracidade à película. Com todo este aparato, a crueza visceral das fontes a cada sequência se desdobra em drama, revolta e emoção caminhando por um roteiro simples, mas contundente. O mesmo recurso, já fora usado por Fernando Meirelles em Cidade de Deus (2002) capta com perfeição as passagens. Inclusive aquelas em que as crianças andam com as armas por debaixo dos braços  e são obrigadas pelos líderes a matarem os seus para sobreviver. 

O contexto fortemente sobrenatural está sempre em comum às raízes africanas que aliados a um bela fotografia de meia-luz ditando o espírito devastado da garota carregam o filme de uma realidade que nos parece distante e indiferente. Me lembro agora de uma frase de Hotel Ruanda dita pelo personagem do maravilhoso Joaquim Phoenix:" As pessoas que virem, vão dizer"nossa, que horror"e depois vão continuar jantando". É a nossa maldição.  A indiferença pelos tormentos de nosso próprio irmão.  Isto torna a obra expressamente relevante que entra como uma zebra na corrida de melhor filme estrangeiro, mas que não deixa de enfeitiçar cada ser humano como um marchador. 

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